segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Pesquisa Individual

.INATIVAÇÃO DO CROMOSSOMO X  
Autores: Roberto Sant’Anna e Carolina Dutra
Setembro - 2003

Introdução
 Sabemos que as mulheres possuem 2 cromossomos X, enquanto os homens apenas
1. Deste modo, teoricamente, elas teriam uma expressão gênica duas vezes superior aos
homens em relação aos genes presentes no cromossomo X, que possui cerca de 5 % do
genoma humano.
 De acordo com a hipótese de Lyon (1961), há nas células de mamíferos do sexo
feminino apenas um cromossomo X ativo. Isto proporciona a compensação de dosagem
entre homens (XY) e mulheres (XX) em relação aos genes presentes no cromossomo X. O
cromossomo X inativo é visto como o corpúsculo de Barr.

Características do processo
A inativação do cromossomo X existentes no indivíduo XX ocorre no início da vida
embrionária, por volta do 13o
 – 16o
 dias de vida intrauterina e tem 2 propriedades
importantes:
- Determinação randômica (aleatória): o X de origem materna e o X de origem
paterna têm a mesma probabilidade de serem escolhidos para inativação.
- Manutenção do padrão de inativação: a partir do momento em que um dos
cromossomos X é escolhido para inativação e é inativado, todos os descendentes
clonais daquela célula apresentam o mesmo X inativo.
Desta forma, a inativação do X é um processo determinado aleatoriamente, mas
fixo.
Uma das consequências do processo de inativação do X é a ocorrência de
mosaiquíssimo somático em mulheres, já que estas possuem 2 populações celulares distintas
em relação ao cromossomo X. Uma manifestação fenotípica bem evidente deste fenômeno
são as diferentes cores de pelo da gata malhada.

Centro de inativação do X
O centro de inativação do X é uma região presente na banda 13q do cromossomo X
que organiza o processo de inativação do X. Neste centro encontramos o gene XIST ( X
inative specific transcript) que é fundamental no processo de inativação do X. Mais
recentemente foi identificada também o gene Tsix, situado abaixo do XIST ( em relação ao
centrômero), com papel provavelmente possivelmente de regulação.

Processo de inativação do X
O gene XIST é tanto necessário quanto suficiente para que ocorra a inativação do X,
isto é, sem a presença de XIST a inativação não ocorre e é preciso somente a sua presença
para que o processo seja iniciado.
No período embrionário, antes do 13o
 dia de vida intrauterina, o gene XIST é
expresso em níveis baixos em ambos os cromossomos X, até que a escolha do cromossomo
X a ser inativado. A maneira com que a célula reconhece o número de cromossomos X que
possui e qual de seus cromossomos X inativo o gene XIST ativo, sendo expressado apenas
como RNAm (somente é transcrito, não sendo traduzido como proteína), que envolve este cromossomo. A expressão do XIST determina o silenciamento dos outros genes deste
cromossomo. No cromossomo X que permanece ativo, o gene XIST é inativo, e seus genes
expressam-se normalmente.
O gene XIST é capaz de induzir a inativação do X em células embrionárias,
entretanto, sua expressão isoladamente não é capaz de manter este processo nas linhagens
celulares subseqüentes. Assim, temos que o processo de inativação do X inicia na vida
embrionária, por ação do gene XIST, mas deve ser mantido através de mecanismos
específicos para que permaneça nos descendentes clonais celulares.

Manutenção da Inativação do X
Estudos demonstram que a ausência de hipoacetilação e metilação fazem que a
inativação seja reversível. Isto demonstra que estes mecanismos são necessários à
manutenção da inativação do X.
Dentre estes mecanismos, a metilação é um dos mais relevantes e consiste na
ligação de radicais metila ao DNA, com conseqüente silenciamento dos genes. Na
inativação do X, ocorrerá inicialemente a ação do gene XIST e posteriormente o padrão de
inativação determinada por XIST será mantida por metilação. Desta forma conclui-se que
uma vez estabelecida a inativação de um cromossomo X de uma célula, esta pode ser
mantida sem a expressão de XIST.

A inativação é incompleta
Alguns genes no cromossomo X inativo escapam da inativação, principalmente
aqueles que se encontram na região pseudoautonômico do cromossomo X ( que tem
homologia à região pseudoautossômica de Y), região periacrocentromérica e 30 % dos
genes do braço curto do cromossomo X.
Além disso, alguns genes apresentam inativação variável entre diferentes indivíduos
e, desta forma, podemos inferir que existam outros mecanismos envolvidos na
compensação de dosagem entre homens e mulheres em relação a genes ligados ao X.

Inativação Não Aleatória
Há algumas situações em que a inativação do X não é aleatória, sendo as principais:
Lyonização seletiva: em situações onda há uma mutação presente em um dos
cromossomos X, a inativação ocorre preferencialmente no X onde há defeito, permitindo a
seleção de X ativos sem mutação e tendo, portanto, um efeito benéfico.
Lyonização negativa: neste caso também há uma mutação presente em um dos
cromossomos X, mas há uma inativação preferencial do cromossomo X normal,
permanecendo o X mutado na maioria dos cromossomos X ativos. Esta forma de inativação
não aleatória tem conseqüências negativas, podendo gerar hetergozigotas desenvolverem
doenças ligadas ao X como Hemofilia ou Distrofia Muscular de Duchenne.
Mutação em XIST: que proporciona alteração no processo aleatório.
Células de tecido extraembrionário: nas quais somente o X de origem paterna é
inativado.

Gametogênese
 No processo de formação dos gametas femininos (ocitogênese) é necessário que
ocorra a reativação do cromossomo X previamente inativo para que seus gametas disponham cada qual de um cromossomo X ativo. Este processo de reativação do
cromossomo X ocorre simulataneamente à diminuição da expressão do gene XIST.
 A reativação do X é fundamental para manutenção da vida, pois do contrário 50%
dos embriões masculinos (aqueles que o espermatozóide levava um Y) não sobreviveriam,
uma vez que 50 % dos gametas femininos possuiria um X inativo e pelo menos um X deve
ser ativo para que o embrião se desenvolva.
. As mulheres têm dois cromossomos X, e os homens um só. Entretanto, produtos condicionados por genes localizados neste cromossomo são formados em quantidade aproximadamente iguais. Como ocorre esta compensação de dose? Supunha-se que, nos mamíferos, houvesse algum mecanismo regulatório que fizesse com que a atividade, no cromossomo X isolado, fosse o dobro da atividade de dois X quando estivessem juntos na mesma célula. Mary Lyon, uma pesquisadora inglesa, foi a primeira a explicitar em detalhes uma teoria, hoje já amplamente comprovada pelos fatos, fornecendo uma base física para o fenômeno. Em síntese, a hipótese é a seguinte:

(a) Nas células somáticas das fêmeas dos mamíferos apenas um cromossomo X é ativo. O segundo X está condensado e inativo, e aparece nas células interfásicas como um corpúsculo bem delimitado localizado próximo à membrana nuclear (a cromatina sexual).

(b) A inativação ocorre bem no início da vida embrionária.

(c) O X inativo pode ser de origem tanto paterna como materna, nas diferentes células de uma fêmea. Mas, após a "decisão" de qual dos X será inativado em uma determinada célula, todas as suas células descendentes ''mantêm a decisão", isto é, terão o mesmo X inativado. A inativação ocorre ao acaso mas é fixa.
. Cromatina sexual, também chamado de corpúsculo de Barr, é o nome dado ao cromossomo X inativo e condensado das células que constituem as fêmeas de mamíferos. 

Nos seres humanos, cada célula feminina possui dois cromossomos X (um de origem materna e outro paterna), acontecendo condensação ao acaso de um destes cromossomos. No gênero masculino, exceto a ocorrência de síndrome de Klinefelter, os organismos não apresentam cromatina sexual. 

A acomodação da cromatina no interior do núcleo e o seu estado de condensação variam de um tipo celular para outro e são característicos de cada célula. Além disso, o mesmo tipo celular pode apresentar a cromatina sexual com vários níveis de condensação, de acordo com o estágio funcional do ciclo celular (período interfásico e divisão). 

A presença ou não de cromatina sexual permite análise com diagnóstico citológico do sexo genético, a partir do cromossomo condensado na forma de um pequeno grânulo visível em preparações de células tratadas com corantes para observação microscópica no núcleo. 

Portanto, esse método pode ser empregado na determinação do sexo de um indivíduo, quando os caracteres fenotípicos são duvidosos.


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