.INATIVAÇÃO DO CROMOSSOMO X
Autores: Roberto Sant’Anna e Carolina Dutra
Setembro - 2003
Introdução
Sabemos que as
mulheres possuem 2 cromossomos X, enquanto os homens apenas
1. Deste modo, teoricamente, elas teriam uma expressão
gênica duas vezes superior aos
homens em relação aos genes presentes no cromossomo X,
que possui cerca de 5 % do
genoma humano.
De acordo com a
hipótese de Lyon (1961), há nas células de mamíferos do sexo
feminino apenas um cromossomo X ativo. Isto proporciona a
compensação de dosagem
entre homens (XY) e mulheres (XX) em relação aos genes
presentes no cromossomo X. O
cromossomo X inativo é visto como o corpúsculo de Barr.
Características do processo
A inativação do cromossomo X existentes no indivíduo XX
ocorre no início da vida
embrionária, por volta do 13o
– 16o
dias de vida intrauterina
e tem 2 propriedades
importantes:
- Determinação randômica (aleatória): o X de origem
materna e o X de origem
paterna têm a mesma probabilidade de serem escolhidos
para inativação.
- Manutenção do padrão de inativação: a partir do momento
em que um dos
cromossomos X é escolhido para inativação e é inativado,
todos os descendentes
clonais daquela célula apresentam o mesmo X inativo.
Desta forma, a inativação do X é um processo determinado
aleatoriamente, mas
fixo.
Uma das consequências do processo de inativação do X é a
ocorrência de
mosaiquíssimo somático em mulheres, já que estas possuem
2 populações celulares distintas
em relação ao cromossomo X. Uma manifestação fenotípica
bem evidente deste fenômeno
são as diferentes cores de pelo da gata malhada.
Centro de inativação do X
O centro de inativação do X é uma região presente na
banda 13q do cromossomo X
que organiza o processo de inativação do X. Neste centro
encontramos o gene XIST ( X
inative specific transcript) que é fundamental no
processo de inativação do X. Mais
recentemente foi identificada também o gene Tsix, situado
abaixo do XIST ( em relação ao
centrômero), com papel provavelmente possivelmente de
regulação.
Processo de inativação do X
O gene XIST é tanto necessário quanto suficiente para que
ocorra a inativação do X,
isto é, sem a presença de XIST a inativação não ocorre e
é preciso somente a sua presença
para que o processo seja iniciado.
No período embrionário, antes do 13o
dia de vida intrauterina,
o gene XIST é
expresso em níveis baixos em ambos os cromossomos X, até
que a escolha do cromossomo
X a ser inativado. A maneira com que a célula reconhece o
número de cromossomos X que
possui e qual de seus cromossomos X inativo o gene XIST
ativo, sendo expressado apenas
como RNAm (somente é transcrito, não sendo traduzido como
proteína), que envolve este cromossomo. A expressão do XIST determina o
silenciamento dos outros genes deste
cromossomo. No cromossomo X que permanece ativo, o gene
XIST é inativo, e seus genes
expressam-se normalmente.
O gene XIST é capaz de induzir a inativação do X em
células embrionárias,
entretanto, sua expressão isoladamente não é capaz de
manter este processo nas linhagens
celulares subseqüentes. Assim, temos que o processo de
inativação do X inicia na vida
embrionária, por ação do gene XIST, mas deve ser mantido
através de mecanismos
específicos para que permaneça nos descendentes clonais
celulares.
Manutenção da Inativação do X
Estudos demonstram que a ausência de hipoacetilação e
metilação fazem que a
inativação seja reversível. Isto demonstra que estes
mecanismos são necessários à
manutenção da inativação do X.
Dentre estes mecanismos, a metilação é um dos mais
relevantes e consiste na
ligação de radicais metila ao DNA, com conseqüente
silenciamento dos genes. Na
inativação do X, ocorrerá inicialemente a ação do gene
XIST e posteriormente o padrão de
inativação determinada por XIST será mantida por
metilação. Desta forma conclui-se que
uma vez estabelecida a inativação de um cromossomo X de
uma célula, esta pode ser
mantida sem a expressão de XIST.
A inativação é incompleta
Alguns genes no cromossomo X inativo escapam da
inativação, principalmente
aqueles que se encontram na região pseudoautonômico do
cromossomo X ( que tem
homologia à região pseudoautossômica de Y), região
periacrocentromérica e 30 % dos
genes do braço curto do cromossomo X.
Além disso, alguns genes apresentam inativação variável
entre diferentes indivíduos
e, desta forma, podemos inferir que existam outros
mecanismos envolvidos na
compensação de dosagem entre homens e mulheres em relação
a genes ligados ao X.
Inativação Não Aleatória
Há algumas situações em que a inativação do X não é
aleatória, sendo as principais:
Lyonização seletiva: em situações onda há uma mutação
presente em um dos
cromossomos X, a inativação ocorre preferencialmente no X
onde há defeito, permitindo a
seleção de X ativos sem mutação e tendo, portanto, um
efeito benéfico.
Lyonização negativa: neste caso também há uma mutação
presente em um dos
cromossomos X, mas há uma inativação preferencial do
cromossomo X normal,
permanecendo o X mutado na maioria dos cromossomos X
ativos. Esta forma de inativação
não aleatória tem conseqüências negativas, podendo gerar
hetergozigotas desenvolverem
doenças ligadas ao X como Hemofilia ou Distrofia Muscular
de Duchenne.
Mutação em XIST: que proporciona alteração no processo
aleatório.
Células de tecido extraembrionário: nas quais somente o X
de origem paterna é
inativado.
Gametogênese
No processo de formação
dos gametas femininos (ocitogênese) é necessário que
ocorra a reativação do cromossomo X previamente inativo
para que seus gametas disponham cada qual de um cromossomo X ativo. Este
processo de reativação do
cromossomo X ocorre simulataneamente à diminuição da
expressão do gene XIST.
A reativação do X
é fundamental para manutenção da vida, pois do contrário 50%
dos embriões masculinos (aqueles que o espermatozóide
levava um Y) não sobreviveriam,
uma vez que 50 % dos gametas femininos possuiria um X
inativo e pelo menos um X deve
ser ativo para que o embrião se desenvolva.
. As
mulheres têm dois cromossomos X, e os homens um só. Entretanto, produtos
condicionados por genes localizados neste cromossomo são formados em quantidade
aproximadamente iguais. Como ocorre esta compensação de dose? Supunha-se que,
nos mamíferos, houvesse algum mecanismo regulatório que fizesse com que a
atividade, no cromossomo X isolado, fosse o dobro da atividade de dois X quando
estivessem juntos na mesma célula. Mary Lyon, uma pesquisadora inglesa, foi a
primeira a explicitar em detalhes uma teoria, hoje já amplamente comprovada
pelos fatos, fornecendo uma base física para o fenômeno. Em síntese, a hipótese
é a seguinte:
(a)
Nas células somáticas das fêmeas dos mamíferos apenas um cromossomo X é ativo.
O segundo X está condensado e inativo, e aparece nas células interfásicas como
um corpúsculo bem delimitado localizado próximo à membrana nuclear (a cromatina
sexual).
(b) A
inativação ocorre bem no início da vida embrionária.
(c) O
X inativo pode ser de origem tanto paterna como materna, nas diferentes células
de uma fêmea. Mas, após a "decisão" de qual dos X será inativado em
uma determinada célula, todas as suas células descendentes ''mantêm a
decisão", isto é, terão o mesmo X inativado. A inativação ocorre ao acaso
mas é fixa.
. Cromatina sexual, também chamado de corpúsculo de Barr, é o
nome dado ao cromossomo X inativo e condensado das células que constituem as
fêmeas de mamíferos.
Nos seres humanos, cada célula feminina possui
dois cromossomos X (um de origem materna e outro paterna), acontecendo
condensação ao acaso de um destes cromossomos. No gênero masculino, exceto a
ocorrência de síndrome de Klinefelter, os organismos não apresentam cromatina
sexual.
A acomodação da cromatina no interior do núcleo e
o seu estado de condensação variam de um tipo celular para outro e são
característicos de cada célula. Além disso, o mesmo tipo celular pode
apresentar a cromatina sexual com vários níveis de condensação, de acordo com o
estágio funcional do ciclo celular (período interfásico e divisão).
A presença ou não de cromatina sexual permite
análise com diagnóstico citológico do sexo genético, a partir do cromossomo
condensado na forma de um pequeno grânulo visível em preparações de células
tratadas com corantes para observação microscópica no núcleo.
Portanto, esse método pode ser empregado na
determinação do sexo de um indivíduo, quando os caracteres fenotípicos são
duvidosos.